No dia 16 foi realizado o
lançamento do Fora do Eixo Manaus em parceria com o Coletivo Cuia, no espaço
cultural da livraria valer. Com entrada franca e a participação de
aproximadamente 50 pessoas, a primeira etapa também contou com uma mesa redonda
formada por produtores, músicos e articuladores para discutirem a importância
dos coletivos na produção cultural independente. A programação ainda contou com
a apresentação da banda Playmobils e a performance do DJ Marcos Tubarão.
Dia 20 foi realizada a segunda
etapa do Grito embaixo do viaduto da Constantino Nery de forma gratuita, 10
bandas, interferências poéticas, cênicas e visuais, performances e exibições de
vídeoartes, videoclipes de bandas locais, videodanças e documentários locais
feitos sobre música fizeram parte da programação naquele dia. As primeiras exposições
do Laboratório de moda do Difusão foram feitas, bem como a nossa primeira
transmissão ao vivo de um evento pela rádio web.
O Grito Manaus no dia 20 foi
produzido pelo Coletivo Difusão em parceria com a Baruk Produções e com a
mobilização da classe artística da cidade em caráter de manifestação cultural.
O evento não teve apoio de nenhuma secretaria de cultura ou empresa privada, e
reuniu mais de 2 mil pessoas em um espaço público em ócio.
Nosso objetivo em produzir o
Grito Manaus com caráter de manifestação/interferência urbana foi feito para
promover a identidade cultural da cidade de Manaus, a valorização de espaços
públicos e fomentar a formação de público e a produção artística independente
da cidade e da região, já que duas bandas (uma de Belém e outra de Boa Vista)
participaram do Grito.
Desde 2006 realizamos
eventos/interferências urbanas na cidade. E especialmente embaixo do viaduto da
Constantino Nery já realizamos outros quatro eventos/interferências lá. Tais
eventos em caráter de manifestação são respaldados pela Constituição Federal
que nos garante promover essas ações na cidade.
O parágrafo IX do artigo 5º da
constituição diz que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. E
segundo o parágrafo XVI do mesmo artigo, “todos podem reunir-se pacificamente,
sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
Bom, a Constituição foi citada neste
relato para dizer que infelizmente a Polícia Militar do Amazonas se colocou
acima da constituição e interrompeu de forma autoritária nosso Grito. À 1h a
polícia chegou ao local desligando o som, subindo no palco, sem conversar com
os organizadores e só não agrediram os músicos porque impedimos, mas até spray
de pimenta foi jogado na direção dos que tentavam registrar o momento.
A ‘interferência policial’ feita
por várias viaturas foi realizada 30 minutos depois que protestamos contra as
secretarias de cultura do Município de Manaus e do Estado do Amazonas.
Em conversação com a PM eles
pediam uma autorização para estarmos ali, então explicamos tudo. Que estávamos
respaldados pela Constituição. Que não precisávamos de autorização. Que
precisávamos apenas informar os órgãos. E acrescentamos ainda que o Grito fora
amplamente divulgado nos principais veículos de comunicação da cidade, com
matérias em jornais e rádios e inserções da vinheta do grito na Globo local,
que abre espaço para publicitar gratuitamente eventos de promoção cultural sem
fins lucrativos.
E a resposta do sargento da PM
foi de que o que estávamos fazendo não era uma manifestação cultural. Segundo o
PM, uma manifestação só é feita por secretarias ou órgão do governo. Ele também
disse que as mais de 2 mil pessoas presentes no evento não representavam a
sociedade, porque eram todos iguais e portanto o que estávamos fazendo não era
uma manifestação cultural. ? Como assim?
Nós conseguimos reunir
seguimentos artísticos diferentes para um público mais do que diversificado. E
o policial de forma preconceituosa falou que as pessoas que lá estavam eram
nada! Sem contar que no evento não teve uma única confusão, o que foi
reconhecido pelo PM, que afirmou ter passado pelo local várias vezes durante a noite
sem ter visualizado qualquer tumulto.
É, mas os PMs não pararam por ai,
disseram que a cultura não era algo tão bom quanto acreditamos, porque segundo
o sargento, “a cultura fez com que a população não gostasse da polícia”.
Chegamos a argumentar que a
paralisação do evento poderia gerar um tumulto generalizado e então o policial
nos ameaçou afirmando que tumulto não era problema, porque ele poderia aumentar
ainda mais o efetivo de policiais e parar na porrada qualquer problema.
Nós poderíamos continuar o
evento, porque estávamos no nosso direito, mas eles estavam dispostos a
insistir em calar o Grito. Preocupados com a segurança de todos, já que isso
poderia gerar sim um tumulto, insistimos em um acordo para que pelo menos a
banda Iekuana de Boa Vista (que viajou por conta própria mais de 12h para estar
lá) tocasse. Então, o acordo acabou sendo feito para que o evento fosse
encerrado faltando ainda a apresentação de outras quatro bandas.
Os PMs alegaram que o evento
deveria ser paralisado, porque moradores da área fizeram reclamações de
barulho. Nós realizamos interferências culturais naquele mesmo local outras
quatro vezes em três anos. Nunca houve qualquer reclamação, mesmo com o fato de
alguns dos eventos terem acabado às 6h.
O mais curioso é que existem
poucos moradores próximo do viaduto. Um deles chegou a ir com o PM para falar
que já havíamos realizado outros eventos lá e que os moradores não se sentiam
incomodados. Sem contar com o fato do viaduto ficar em frente a uma casa de
shows que realiza periodicamente eventos que chegam a fechar a rua e que nunca
são paralisados.
Enfim, nenhum argumento funcionou
e a intransigência prevaleceu.
Estamos enviando esse email para
relatar tais fatos que repudiamos por completo.
E para enfrentar de frente e de
forma inteligente o que aconteceu vamos realizar a continuação do Grito Manaus
no mesmo lugar e em data que ainda será definida com a participação das
atrações que foram impedidas pela polícia de se apresentarem.
Mas agora iremos nos munir de
outros artifícios jurídicos para fazermos valer nosso direito de nos
manifestarmos artístico/politicamente sem que a polícia possa desta vez nos
‘barrar’.
Nessa mesma esteira pretendemos
ampliar essa discussão para causarmos uma reflexão e esclarecimento sobre a
importância das manifestações artísticas na cidade. Por isso vamos organizar um
fórum sobre a ocupação de espaços públicos por movimentos artísticos. Desse
fórum, que ainda terá sua data e local de realização definidos, deve ser feito
um documento para contribuir com um assunto ainda pouco debatido. Pretendemos
compartilhar esse documento com todos do Circuito Fora do Eixo e com
simpatizantes do Coletivo Difusão para que as discussões sejam ampliadas ao
máximo.
Também estamos produzindo um
documentário sobre o Grito Manaus que terá essas questões aqui relatadas
abordadas em seu conteúdo
Assista ao vídeo com trechos da interferência da PM no Grito Manaus 2010!
Atenciosamente,
Associação Difusão Amazonas, há
quatro anos no fomento de cultura urbana na cidade de Manaus.
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